terça-feira, 8 de março de 2011

gays contra gays


Uma biba evangélica postou em seu blog a seguinte frase: “Eu sou um gay temente a Deus.
Eu não gosto de gay que é afeminino, porque eu não sou. Eu odeio bixa (com “xis” mesmo)
passiva! Eu procuro um homem evangélico, acima de 40 anos, para amar e respeitar por toda
minha vida.”

Meigo, não é mesmo?

Todos nós somos preconceituosos, sem exceção. Sempre que nos deparamos com pessoas
ou situações que fogem ao nosso controle ou à nossa compreensão, nos armamos com todos
os métodos de defesa e partimos para a agressão verbal fora de controle, dos comentários
infelizes e das piadas infames sobre nosso objeto de preconceito.

Até mesmo, em algumas ocasiões, chegamos a partir para a agressão física perante quem
não segue as nossas regras, quem não concorda com os nossos pontos de vista ou não se
comporta de acordo com aquilo que chamamos de “social”.

É extremamente desagradável nos depararmos com situações onde somos agredidos sem
nenhum motivo aparente, apenas porque ainda somos considerados diferentes, estranhos,
alienígenas.

O pior de tudo é se passar por “santa”, criticando a postura e a ignorância alheia, e no fundo,
por trás, fazer chacota do próprio semelhante.

Nós, gays, somos especialistas nisso. E vai me contrariar, dizendo que você não adora falar
mal daquelas bibas qua-quás da Zona Norte que freqüentam a mesma boate que a senhora? Ou
meter o pau – meter o pau? – nas passivonas que dizem que são machos e no fundo são mais
“mulheres” do que a lindinha?

Em pleno século vinte e um, por motivos religiosos, reprimimos, condenamos e matamos todo
ser humano que não se adapta àquilo que acreditamos ser a Verdade, o Caminho, o Divino.

Jogamos a culpa na porra do Homem lá de cima, dizendo que foi Ele quem disse, escreveu
(!!) e afirmou que somos a “escória da humanidade”. E ao mesmo tempo, ajoelhamos diante do
Santíssimo e prometemos durante as missas ou cultos, nas orações e nas palavras vazias que
vamos amar uns aos outros como Ele nos amou. Pode uma coisa dessa?

Somos hipócritas. Somos uma cambada de idiotas. Somos egoístas. E ainda nos julgamos
vítimas do destino, implorando aos quatro ventos que queremos ser amados, que merecemos
a felicidade, que somos bons, que somos sinceros e não conseguimos compreender o porquê
de tanta dor e sofrimento. Acorda, Maria!

A única maneira de sobrevivermos à avalanche de martírios a que estamos destinados – por
culpa única e exclusivamente nossa –, é paramos tudo nesse exato instante e acordarmos para
a realidade dos fatos.

Não adianta você ir na Parada Gay, dizer que é assumido e tal (claro que escondido debaixo
de perucas multicoloridas e atrás daqueles óculos enormes de grandes!); que a sociedade tem
que te aceitar pelo o que você é, e o escambau, se no fundo você vai mesmo é atrás de quilos
de bofes e bundas e picas monumentais e depois dizer para as amigas que a Parada-trepada
foi tudo de bom, né, fofa!

Lutar pelos seus direitos, buscar a sua identidade e seu lugar na sociedade é algo que você
e eu e todos nós temos que fazer, temos que batalhar, independente da nossa opção sexual.
Mas enquanto não aprendermos a deixar de lado o nosso próprio preconceito e eliminar de nós
mesmos a nossa infindável ignorância, jamais teremos cacife e direito de exigirmos nada, de
ninguém.

Infelizmente, sempre haverá um dito cujo que jamais vai nos aceitar ou compreender nossas
opções sexuais, pessoais, morais, emocionais, espirituais, etc. Nesses casos, temos que real-
mente seguir a máxima do cristianismo (ou seja lá de que religião você professar): amarmos
fraternalmente uns aos outros.

Compreender e respeitar as diferenças é o ponto de partida para se conviver em harmonia
e equilíbrio, em todas as situações, em todos os sentidos.

Senão, neste caso, acho que vamos continuar odiando os gays...

... vamos continuar odiando a nós mesmos!